segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A Professora de Piano [2001]


(de Michael Haneke. La Pianiste, França, 2001) Com Isabelle Huppert, Annie Girardot, Benoît Magimel. Cotação: **

Este talvez seja o filme mais chatinho do notável Michael Haneke, diretor que hoje se encontra com uma filmografia destacável, com boas obras no currículo, como "Violência Gratuita", "Caché" e "A Fita Branca", e me arrisco a dizer que este último seja o seu ápice. O problema é que “A Professora de Piano” está numa linha tênue, onde filme de arte pode corresponder a um grande equívoco de gosto duvidoso, que por algum motivo ainda desconhecido atrai prêmios, agrada a uma turma de críticos, e com isso, fãs fervorosos que usam uma viseira intelectual que os impedem de reconhecer que “A Professora de Piano”, por exemplo, está bem longe de ser uma obra prima de Haneke.

Baseado no livro da austríaca Elfriede Jelinek (Nobel de Literatura em 2004), o filme apresenta a dinâmica entre profissionalismo, descrição e sexualidade de Erika Kohut (Isabelle Huppert), uma – adivinhem – professora de piano, que trabalha num tradicional conservatório, onde interessados fazem fila para tentar ingressar em suas aulas. Ríspida e incapaz de mostrar um sorriso, Erika se mantém inerte em sua vida particular, na qual o único momento de excitação se encontra na cabine de um privê, assistindo a filme pornô e cheirando os papéis sujos daquele recinto (sim, é bastante nojento). Até que ela conhece um jovem apreciador de música durante um recital. Ele insiste para que ela o aprimore no repertório de Schubert (1797-1828), e tenha relações sexuais com ele. Só que o rapaz nem sabe que ela tem fantasias sexuais bem peculiares.

Uma coisa indiscutível em “A Professora de Piano” é o trabalho esplêndido, visceral, fantástico (inclua aqui qualquer outro adjetivo para uma atriz que faz um trabalho além do impressionante) de Isabelle Huppert. Fico pensando que este papel, se caído em mãos erradas, poderia ter deixado o filme no limbo da carreira de Haneke. Graças a Huppert, que ganhou o prêmio de melhor atriz no festival de Cannes, a obra teve passagem para diversas aclamações. Ela constrói e desconstrói a sua personagem de uma forma bastante impactante. O mesmo posso dizer de Annie Girardot (1931-2011), que interpreta a mãe da professora. Eu diria que as duas fazem o filme valer a pena.

Eu achava que, em algum momento, iria encontrar o verdadeiro charme do filme. Não teve. Entre cenas de masoquismo barato, ou um final que, de tão inconveniente em sua insistência em parecer poético e simbólico, acaba dando margem demais para interpretações obscuras, que aqueles mesmos fãs que citei no início do texto fazem firulas numa tentativa frustrada de dizer que o filme é “provocativo e revolucionário”. Provocativo pode até ser, e talvez seja mais humano (no modo natural da coisa toda) do que muito romance por aí. Mas dizer que ele chega ao ponto de ser revolucionário, isso, além de ser bastante discutível, ainda faz parecer que a pessoa pegou o bonde andando.

Mas divago, para variar. Mexer com sexualidade talvez seja algo bastante particular.

3 comentários:

  1. Vi esse filme com a minha mãe do lado. Quando chegamos naquela final, ela disse que foi o pior filme de toda a vida dela. Mas eu gostei, até achei condizente com a personagem de Huppert - realmente, uma atriz maravilhosa que chegou ao ápice aqui. De Haneke, o que não gosto mesmo é Caché.
    Abração!

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  2. Confesso que do Haneke conheço apenas A Fita Branca. Me interessei pelas outras obras dele, especialmente esta, Caché, Violência Gratuita e uma adaptação dum livro do Kafka. Mas seu comentário me desanimou um pouco e é provável que eu acabe adiante minha visita a esse filme. Evito experiências que soam enfadonhas!

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  3. Em termos de narrativa, não é mesmo nada instigante. Mas eu gosto muito da personagem principal e como vc mesmo disse, a Isabelle tá monstruosa de boa nesse filme.

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