sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Os Descendentes [2011]


(de Alexander Payne. The Descendants, EUA, 2011) Com George Clooney, Shailene Woodley, Amara Miller, Nick Krause, Patricia Hastie, Robert Forster, Matthew Lillard, Judy Greer. Cotação: ****

Já faz algum tempo que George Clooney abandonou - presumo que de vez - a imagem de galã, fazendo papéis discutíveis que o estagnaram numa zona de conforto por anos. De uns tempos para cá, a coisa veio mudando. Acho que até mesmo antes de “Syriana – A Indústria do Petróleo” (2005), filme que lhe rendeu seu primeiro Oscar, ele já havia demonstrado claros sinais de amadurecimento profissional, que foi emoldurado com bons trabalhos como diretor (visto em “Boa Noite e Boa Sorte”, de 2005, e mais recentemente, em “Tudo Pelo Poder”) e a figura de bom moço, que reafirma sua imagem até hoje.

Com esse “Os Descendentes”, Clooney tem mais uma chance de acumular prêmios e chegar a um status que já era esperado em sua interessante carreira. Aqui, ele interpreta Matt King, um advogado de sucesso que vive no Havaí (um lugar pouco retratado no cinema hollywoodiano). O texto inicial até brinca com o fato das pessoas acharem que os havaianos vivem num paraíso, mexendo os quadris e tocando ukulele sem nenhuma preocupação na vida. Mas Matt passa por situações bem dramáticas. Sua esposa se encontra em coma após um acidente no mar, e dada pelo médico como caso perdido. Cabe a ele cuidar da filha caçula, de dez anos, e trazer a filha mais velha, a rebelde Alexandra (Shailene Woodley) para ajudá-lo nas questões familiares e a discussão acerca da eutanásia da mulher. Como se não bastasse isso, ele descobre que sua esposa o traia com um homem do mesmo local, e todas essas situações poderão influenciar na difícil decisão de vender as terras milionárias de seus antepassados.

Logo no início do longa, o protagonista se refere à família como um arquipélago, onde as partes fazem, em conjunto, de um todo, mas que aos poucos vão se distanciando. Essa temática é o motor de “Os Descendentes”, que é, acima de tudo, um filme sobre família, e em como ela pode ser o verdadeiro refúgio de um homem que antes dava mais valor às realizações profissionais em detrimento das pessoais. Acompanhar esse grande arco que terá Matt King é o melhor de ser visto no filme, através de confrontos, choques de realidade, e muitas reações inesperadas. Matt King pode não ter certeza, mas tudo o que acontece com ele é uma forma (mesmo que forçada) de torná-lo um homem melhor. Se ele consegue ou não, só assistindo ao filme e julgando por si. Só adianto que tudo ali é concluído com bastante satisfação.

O elenco também é um ponto alto. Dispensando um pouco os elogios à Clooney, é Shailene Woodley, atriz de grande sucesso na TV por conta de seu papel em “A Vida Secreta de Uma Adolescente Americana”, que se torna a grande revelação do filme, que deu a ela a chance de ser reconhecida também em premiações como o Globo de Ouro e o Independent Spirit Awards (esta última bem mais respeitada). E o que dizer, também, da participação assustadora de Robert Forster? O cara, com apenas algumas palavras de insatisfação proferidas contra o genro ou o amigo sem noção da neta, ou quando visita a sua filha em coma, já são suficientes para colocá-lo na dianteira de um elenco tão eficiente.

O diretor Alexander Payne, voltando à ativa após jejum de sete anos (seu último trabalho foi o notável "Sideways - Entre Umas e Outras"), sabe o melhor para humanizar os protagonistas de seus filmes, e num trabalho excepcional de direção de atores, consegue fazer com que intérpretes subestimados (como Matthew Lillard e Judy Greer) também tenham ótimos desempenhos. Com roteiro escrito por ele, juntamente com Nat Faxon e Jim Rash, baseado no livro da havaiana Kaui Hart Hemmings, “Os Descendentes” faz uma definição do que é uma dramédia (drama + leve tom de comédia) de verdade, salientando a perspicácia dessa classificação. Com isso, já são motivos suficientes para uma ida ao cinema a fim de conferir um filme que, no mínimo, te deixará saciado da vontade de ver algo bom.

3 comentários:

  1. Eu particularmente acho esse o melhor do Payne, apesar de adorar muito "Sideways" - esse mais recente - tem todo o toque, a valorização dos personagens e principalmente de um bom roteiro, Payne acerta em cheio, e Clooney fantástico!

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  2. A sua resenha está ótima, Adecio. Também gostei muito da simplicidade e intensidade da obra de Payne.
    Abraços,

    O Falcão Maltês

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  3. Também gostei do filme, apesar de esperar mais da construção dos personagens.

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