segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Tomboy [2011]


(de Céline Sciamma. Idem, França, 2011) Com Zoé Héran, Malonn Lévana, Jeanne Disson, Sophie Cattani, Mathieu Demy. Cotação: *****

Eu peguei este singelo filme francês como o meu preferido dentre os filmes que acabaram de estrear neste ano. Infelizmente, “Tomboy” sofre a resistência das salas de cinema comerciais, e eu acredito que só será encontrado mesmo em salas mais alternativas, que dedicam boa parte de sua programação para os filmes de arte. Correndo em vários festivais de temática GLBT pelo mundo desde o ano passado, este belíssimo trabalho da francesa Céline Sciamma trata, de forma bem respeitável, a questão da identidade sexual numa criança comum, sem estar à margem da sociedade e sem crises familiares. Só aí já se percebe um novo horizonte a ser realizado, sem cair na tragédia ou na cafonice.

Quando os pais de Laura (Zoé Héran) se mudam, mais uma vez, para um novo lugar, ela fica deslocada. Sua opção é ficar em casa cuidando de sua irmã caçula, até que numa ida à rua, conhece o grupo de crianças que brincam pelo bairro. Não seria nada usual, caso Laura não se apresentasse como Michaël, se aproveitando de sua imagem andrógina, com cabelos curtos, corpo franzino, ausência de vaidade e roupas masculinas. As crianças nem desconfiam, e uma garota, inclusive, chega a se apaixonar por Michaël, obviamente sem saber que se trata também de uma menina. O que Laura não calcula é que a volta às aulas estão chegando, e é uma questão de tempo para que seus novos amigos e sua família descubram o que ela fez.

“Você não é como os outros”. Essa afirmação, dita pela garota apaixonada pelo mais novo residente do bairro, soa como uma forma resumida da questão de Laura/Michaël. Antes de qualquer interação com o mundo dos homossexuais ou experiência traumatizante, parte dela se sente à vontade para viver como um menino. A liberdade que seus pais lhe dão para se vestir como quiser, ou não se intrometerem na sua pregressa vida particular, faz com que seja bem viável as discussões que o filme provoca. Como disse no início do texto, ao contrário do que é mostrado em muitos filmes com essa temática (e por isso ele jamais pode ser chamado de “Meninos Não Choram” em versão mirim), é que não existe malícia ainda. Não são encontrados problemas familiares, que muitos dizem ser o início de um comportamento transitório, que poderá culminar até na homossexualidade. Uma definição absurda desse conceito, verdade seja dita. 

Mas o filme prova de que não se trata de sexualidade. Nem nós, nem a família, nem a própria Laura entende o que acontece com ela mesma. E isso é o que torna “Tomboy” um belíssimo retrato do que é, de verdade, a identidade de gênero. A diretora Céline Sciamma, que também escreveu o roteiro, faz a escolha acertada de realizar um filme basicamente feito por crianças. Os adultos, muitas vezes, são vistos com ângulos que vem por baixo, e quando não são necessárias as suas presenças, vemos lindas interpretações de praticamente todo o elenco infantil do filme. Com destaque, é claro, para Zoé Héran. A garota é um verdadeiro achado do casting, e não duvidaria se descobrisse que ela foi a principal escolha ainda nas seleções de elenco, porque tudo o que o personagem pede lhe cai bem.

Como eu já sei que não será um filme muito alardeado, só preciso dizer a todos que “Tomboy” merece ser descoberto.

4 comentários:

  1. Realmente, Tomboy é um filmaço, e uma pena que não muito descoberto. É todo aquele tema da homossexualidade, só que longe de uma visão maniqueísta. Aqui não tem o certo e o errado durante a infância, é apenas o que a personagem de Zoé Héran - numa atuação impressionante - sente e que deseja. Longe de qualquer julgamento, é um dos meus favoritos do ano passado.

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  2. Humm esse filme está em cartaz aqui em Salvador. Boa dica, irei vê-lo.

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  3. Fiquei, realmente, curioso para vê-lo. Parece ser bom. Um abraço...

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  4. Assisti hoje Tomboy e achei interessante a abordagem dele. Realmente, não se trata de uma análise ''explícita'' da opção sexual. Por outro lado, é apenas uma forma de vida que a personagem principal encontra e a agrada. Só achei que o final do filme é muito abrupto, mal construído. Mas, em suma, gostei bastante do filme. Parabéns pelo texto cara! Expressou bastante coisa que eu notei do filme.

    Abraços!

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