quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Toda Forma de Amor [2010]


(de Mike Mills. Beginners, EUA, 2010) Com Ewan McGregor, Christopher Plummer, Mélanie Laurent, Goran Visnjic, Mary Page Keller. Cotação: ***

Estranhamente, este filme do diretor Mike Mills (do interessante "Impulsividade") sairá aqui no Brasil diretamente em DVD. O fato é que a fita nem teve tempo de ser descoberta e a distribuidora acabou perdendo a oportunidade de aproveitar a estação de prêmios para se beneficiar. É que desde que estreou no Festival de Toronto no ano passado, já levantaram rumores sobre a possibilidade de Christopher Plummer, um aclamado ator de teatro e que nunca ganhou um Oscar (foi indicado pela primeira vez no ano passado por “A Última Estação”), fosse finalmente ser reconhecido pela Academia.

Baseado em um fato por si só bastante cinematográfico vivido pelo próprio Mike Mills, o filme acompanha três momentos do apático cartunista Oliver (Ewan McGregor). Em um deles, o impacto diante da figura de seu pai, assumindo aos 79 anos sua homossexualidade e revelando, assim, que seu casamento de 44 anos não passava de uma farsa. Em outro, Oliver acompanha o tratamento do câncer de seu pai, agora em um relacionamento sério com o jovem Andy (Goran Visnjic). Oliver ainda conhece uma interessante atriz francesa (Mélanie Laurent), e acaba se apaixonando aos quarenta anos, enquanto relembra flashes de sua infância em companhia de uma mãe que, na época, demonstrava uma frustração no casamento até então incompreensível (talvez por já saber da natureza sexual do marido).

A história tão interessante quase não me empolgou por uma insistente questão: e se o protagonista do filme, ao invés de Oliver, fosse seu pai? Não sei se essa dúvida impertinente e injusta com o filme ocorreu com todo mundo, mas o meu interesse pela guinada de um senhor viúvo que sai do armário batendo na casa dos oitenta, descobrindo as lutas civis que sua classe tem que travar e conhecendo um amor que ele tanto merecia, era muito mais interessante do que ver Oliver desenhando aqueles rostos “moderninhos”, levantando suas emoções através de rabiscos enquanto demonstrava amar cada vez mais uma atriz com sérios problemas de auto-afirmação.

O que salva nesse núcleo principal é o cachorro da raça russel terrier. Mesmo com o papel que, a primeira vista, é infame (cachorros que interagem com os personagens através de legendas dizendo o que eles pensam não é algo a ser levado a sério, convenhamos), o animal rouba todas as cenas em que aparece, tamanha a sua fofura. E na segunda ou terceira cena do cachorro “falando” suas impressões, já estamos aceitando muito bem isso tudo.

Depois de passar quase todo o filme com aquele insistente “mas e se...” que falei mais acima, foi quase no desfecho da obra que me dei conta da importância de manter o personagem de Ewan McGregor em primeiro plano. Não é fácil lidar com um conflito pessoal ao saber que você nasceu de uma mentira. Ter uma mãe conformista e um pai enrustido, mesmo que você não saiba, pode ser uma situação deveras deprimente para qualquer um. Se Mike Mills não nos certificasse de que essa história aconteceu realmente com ele, poderíamos dizer que é algoque só aconteceria em cinema, de tão irônico, e ao mesmo tempo, tão trágico que é.

“Toda Prova de Amor” é um filme intimista, e mesmo que sua aura moderninha e título de drama adulto absorvam quem assiste, é visível que o seu modo de contar as formas de amor não embarcará a todos. No meu caso, valeu mais pela simpatia de Plummer (e do russel terrier, é claro).

3 comentários:

  1. Tive a mesma impressão que você. Mesmo sendo importante manter Ewan, sou um desses que acreditava que um filme focado apenas em Plummer renderia um interesse maior. No entanto, poderia cair na armadilha de ser panfletário de maneira ruim, e isso arruinaria ainda mais. Pq um filme gay panfletário não é, de maneira alguma, interessante.

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  2. Eu achei Plummer excelente, mas, sinceramente, quem merece o Oscar é Nick Nolte pelo GUERREIRO.

    Gosto do roteiro de TODA PROVA DE AMOR, acho um filme até humano demais, cativa e nos identificamos demais com seus personagens.

    Acho que gosto bem mais do filme que você.

    Abração!

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  3. Vi em DVD. Achei simpático, mas nada demais. Vale principalmente pela atuação de Plummer.

    O Falcão Maltês

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